“Mestre, que eu veja” (Mc 10,51)
25/10/2024Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. Aqui nos reunimos na acolhida de Jesus, que vem e abre nossos olhos. O Evangelho deste domingo (Mc 10,46-52) situa-se em Jericó, no final da viagem de Jesus com seus discípulos a Jerusalém. Uma “grande multidão” os acompanhava. Naquele momento, um homem, chamado “Bartimeu, cego e mendigo, sentado à beira da estrada” (Mc 10,46), interrompeu a caminhada. Trata-se de uma pessoa marginalizada pela condição física e também social, pois estava sentado à beira do caminho a mendigar, uma ação vergonhosa: “É melhor morrer do que mendigar” (Eclo 40,28).
Caros irmãos e irmãs. Ao ouvir dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, o cego Bartimeu, com profunda humildade, começou a gritar, implorando misericórdia: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim! ” (Mc 10,47). “Muitos o repreendiam para que se calasse” (Mc 10,48). É a atitude de quem não admite que os marginalizados possam ter as mesmas condições de vida que eles, por isso querem sempre aquietá-los. Hoje, também, muitos se dizem seguidores de Jesus, mas não acreditam ou admitem a ação libertadora de Jesus para com os marginalizados.
O cego, porém, gritava ainda mais. Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles disseram-lhe: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama! ” (Mc 10,48). “O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus” (Mc 10,50). Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça? ” (Mc 10,51). Ele respondeu: “Mestre, que eu veja” (Mc 10,51). Então Jesus lhe disse: “Vai, tua fé te salvou” (Mc 10,52). “No mesmo instante ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10,52). O cego, ao ser chamado por Jesus, foi convidado a dirigir-se em direção ao Senhor, ou seja, a recuperar sua dignidade, sair da margem e entrar no caminho indicado por Jesus. Jesus, o servo de Deus, apresentou-se a ele inteiramente disponível, dando a ele, marginalizado, a oportunidade de voltar ao convívio social.
Prezados irmãos e irmãs. Que outros ensinamentos este Evangelho traz? Sendo cego, faltava-lhe luz e orientação. Era mendigo, portanto pobre e excluído. Estava sentado à beira do caminho, desencaminhado, sem rumo. Sua cegueira o impedia de desfrutar a vida como os demais. Nesta condição, só lhe restava pedir compaixão a Jesus. Nele havia uma fé capaz de salvá-lo e pô-lo novamente no verdadeiro caminho. Por isso, ao ficar sabendo que por sua vida estava passando Jesus, não podia deixar escapar a ocasião para encontrar uma saída. Implorou a Jesus: “Tem compaixão de mim! ” Este grito humilde do fundo do coração foi o início de uma vida nova.
Surpreende o fato dos discípulos e dos demais seguidores de Jesus se irritarem com ele. Aquele pobre incomodava. E hoje não é diferente! Mas ele, em suas necessidades, não lhes deu atenção. Ao ouvi-lo, Jesus parou e mandou chamá-lo. Jesus sentiu que não podia continuar o caminho ignorando o sofrimento daquele homem. Ao parar, Jesus fez todo o grupo parar diante dele, colocando-o no centro das atenções. Para Jesus, seus seguidores não podiam seguir seus passos sem escutar aquele clamor.
Esta atitude de Jesus se deve porque o centro do olhar e do coração de Deus são os que sofrem. Por isso, acolhe-os e dedica-se a eles de maneira preferencial. Ao ouvir dos enviados de Jesus, “Coragem, levanta-te, Jesus te chama” (Mc 10,49), Bartimeu deu três passos decisivos em sua vida: jogou fora o manto, isto é, aquilo que o mantinha na cegueira e o impedia de se encontrar com Jesus; deu um pulo, tomou a firme decisão de se aproximar de Jesus, embora ainda andando em trevas; e foi até Jesus. É o que muitos de nós precisamos fazer: libertar-nos das amarras que emperram nossa fé; tomar uma decisão, sem deixá-la para mais tarde e colocar-nos diante de Jesus com confiança.
Caríssimos! Ao ouvir a pergunta de Jesus, “O que queres que eu te faça?”, o cego não hesitou em responder: “Que eu veja”. Curado de sua cegueira por Jesus, o cego não só recuperou a luz, mas deixou de lado seu comodismo e converteu-se num discípulo missionário de Jesus, seguindo o seu caminho. Isto é o mais importante. Quando alguém começa a ver as coisas de maneira nova, sua vida se transforma. Quando alguém ou uma comunidade recebe a luz de Jesus, muda seu jeito de ser e de ver as coisas. Assim, a cura do cego de Jericó é um convite a sair de nossas cegueiras e ver a vida e o mundo com o olhar da misericórdia e amor de Deus, reconhecendo que somos todos irmãos e irmãs.
Deus abençoe a todos e bom domingo!
Dom Adimir Antonio Mazali - Bispo Diocesano de Erexim – RS