Sociedade: Morte
é encarada como «assunto tabu» e processo de luto é vivido sem preparação –
Catarina Bragança Nobre, da Associação InLuto
Igreja Católica
assinala no dia 2 de novembro a comemoração de todos os fiéis defuntos
A
psicóloga clínica Catarina Bragança Nobre, da Associação InLuto, considera que
em Portugal a morte é encarada como um assunto tabu, o que muitas vezes provoca
a impreparação para viver o processo de luto.
“Muitas
vezes nós não queremos falar disso [morte], e a verdade é que, exatamente por
isso, muitas vezes estamos muito impreparados para quando vivenciamos e
experienciamos o processo [de luto]”, disse Catarina Bragança Nobre, em
entrevista ao Programa Ecclesia, transmitido hoje, na RTP2.
A
entrevistada integra a Associação Inluto – Associação Portuguesa de Cuidados
Integrados no Luto, criada em 2021, que tem como missão “desenvolver a
intervenção, formação e investigação na área do luto”, atuando também em
escolas e hospitais com projetos.
Catarina
Bragança Nobre dá conta que trabalhar com crianças “nem sempre é mais difícil
do que trabalhar com os adultos”, referindo que a experiência da Associação
InLuto indica precisamente o contrário, dado que quando se fala em luto implica
sempre “crenças sobre a morte”.
“As
crianças não estão tão cristalizadas naquilo que são as crenças sobre a morte e
sobre o morrer. Então, nós temos uma oportunidade fantástica de desmistificar
alguns conceitos, de falar abertamente sobre os temas, porque elas têm essa
flexibilidade mental, têm muita curiosidade também, e, portanto, acaba por ser
um trabalho muito bonito”, explica.
O
trabalho da Associação InLuto nas escolas passa precisamente por desmistificar
algumas questões sobre o processo de luto e por apoiar crianças que são
sinalizadas e que se considera que que é pertinente um apoio psicológico mais
individual.
“O
luto tem o seu tempo e todos nós temos o nosso tempo de luto”, assinala
Catarina Bragança Nobre, que refere que ao mesmo tempo este é um processo universal,
porque todos, mais cedo ou mais tarde, vão passar por ele, e singular, na
medida em que cada um tem a própria experiência.
Na
entrevista, Catarina Bragança Nobre abordou ainda os conceitos de luto
antecipatório e preparatório.
“Sei
que existem alguns autores que, se calhar, falam com outra terminologia, mas a
mim faz mais sentido adaptar o conceito de luto antecipatório para as pessoas
que se estão a preparar para a morte daqueles que amam”, indicou.
Já
o luto preparatório está relacionado com a própria morte, ou seja, quando
alguém está num processo de fim de vida e tem plena consciência de que não
resta muito mais tempo.
Em
declarações à Agência Ecclesia, a psicóloga clínica frisou que luto não
significa só perda por morte: “Falamos de todo o tipo de perda. Um divórcio,
uma mudança de um país, a perda de um emprego. Tudo isso pode acarretar um
processo de luto”.
A
Igreja Católica celebra a solenidade litúrgica de Todos os Santos no dia 1 de
novembro e a comemoração de todos os fiéis defuntos a 2 de novembro e, nesse
âmbito, o programa ECCLESIA partilha ao longo desta semana experiências de
acompanhamento em situações de luto e de fragilidade.
No
dia 2 de novembro, o Papa vai presidir à Missa dos Finados no cemitério
Laurentino, na periferia de Roma (Itália), onde também esteve em 2018 e rezou
no “Jardim dos Anjos”, um espaço dedicado a crianças falecidas; em Portugal, os
bispos diocesanos e os párocos celebram também nos cemitérios.
Fonte:
Agência Ecclesia