Notícia

Inspirados no legado do apóstolo Anchieta, 505 educadores do país refletem o cenário da educação no Brasil

No último fim de semana, a Comissão Episcopal para Cultura e Educação da CNBB, por meio do setor Educação, promoveu o XXII Encontro Nacional da Pastoral da Educação (Enape), na arquidiocese de Vitória (ES).

O evento reuniu 505 (sendo 105 presenciais e 400 de forma remota) agentes pastorais de todas as regiões e dos 19 regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em torno da relexão sobre os desafios e horizontes da ação evangelizadora da Igreja no âmbito educacional.

Com o tema “Educadores: peregrinos de esperança”, os participantes seguiram um itinerário metodológico que os convidou a analisar a realidade educativa e pastoral, iluminando suas experiências à luz do Jubileu de 2025.

Inspiração no apóstolo Anchieta

O encontro teve como marco espiritual e histórico a peregrinação ao Santuário Nacional São José de Anchieta, onde os educadores vivenciaram momentos de oração e uma profunda conexão com o legado do apóstolo do Brasil.

Para a professora Edna Maria, do Regional Sul I, a figura de Anchieta ressoa como uma inspiração para os educadores de hoje. “A figura de São José de Anchieta, como um educador sensível e atento, inspira todos nós, professores, a educarmos com afeto e empatia. Estar aqui é uma oportunidade de renovar nosso compromisso com uma prática pedagógica fundamentada nos valores cristãos”, destacou.

Para o padre Júlio César, assessor do setor Educação, o grande diferencial do Enape é a integração de diversas experiências e iniciativas que revelam a presença samaritana dos educadores católicos nos ambientes educativos. “O Enape é uma expressão viva de como os educadores buscam ser sinais de esperança, promovendo valores humanos e cristãos em seus contextos”, afirmou.

Luzes e sombras do mundo da educação

Os painéis apresentados durante o encontro ofereceram aos participantes a oportunidade de refletir sobre as “luzes e sombras” no contexto educativo atual, apontando tanto as ameaças à educação integral quanto as oportunidades de missão nos espaços educativos. Essa análise foi vivida como expressão de uma Igreja em saída, comprometida com a promoção de uma educação inclusiva e transformadora.

A partilha de experiências entre educadores de diversas regiões do Brasil resultou na construção de um rico mosaico das iniciativas pastorais da Igreja no campo da educação. Como fruto dessas reflexões, os participantes elaboraram uma carta que expressa suas preocupações, compromissos e esperanças, reafirmando a missão de educar com base nos valores cristãos.

Íntegra da mensagem

CARTA DE VITÓRIA

XXII ENCONTRO NACIONAL DA PASTORAL DA EDUCAÇÃO

Educadores e Educadoras, Peregrinos da Esperança,

No chão sagrado do Espírito Santo, onde o mar abraça as montanhas e o céu parece

tocar a alma, ergueu-se um clamor de esperança. Aqui, na terra de São José de Anchieta, educador e poeta, nos reunimos dos dias 15 a 17 de novembro de 2024, como sementes em busca de solo fértil, trazendo no coração o tema que nos move: “Educadores peregrinos de esperança”.

Vindos de norte a sul do Brasil as vozes dos agentes da Pastoral da Educação ecoaram uníssonas, tecendo uma sinfonia de esperanças e desafios. Educadores, bispos, padres, diáconos, religiosos(as), leigos(as), todos líderes e sonhadores trouxeram na mente, nas mãos e no coração o desejo de seguir os passos de Jesus, Mestre e Educador, nossa esperança.

Este XXII Enape teve como objetivo refletir, partilhar e traçar caminhos para fortalecer a presença evangelizadora da Igreja nos múltiplos espaços educativos deste imenso Brasil. Em um cenário de rápidas mudanças socioculturais, fomos chamados a renovar nosso compromisso com uma educação enraizada na esperança.

Historicamente, a Igreja sempre expressou formas privilegiadas de concretização de sua missão evangelizadora, tanto na educação formal quanto na educação informal. Por isso, reafirmamos nosso compromisso com a educação como processo e princípio de direito.Reforçamos a importância de pensarmos uma educação que valorize e integre as experiências dos diferentes agentes e sujeitos educativos, superando o individualismo, como nos é estimulado pelo caminho sinodal e a proposta de Igreja em saída.

No horizonte da missão da Pastoral da Educação, brilha o ideal de uma educação humanizadora e inclusiva, que seja ponte para a dignidade de cada pessoa e instrumento de transformação social. No entanto, a caminhada rumo a esse ideal é marcada por muitos desafios que foram elencados a partir da escuta dos participantes do Enape: desigualdade educacional e exclusão; crise socioambiental; violências; desvalorização dos professores e privatização da educação pública,

Às vésperas do Ano Santo de 2025, nosso coração se volta para o Jubileu, e queremos renovar nossa vocação de peregrinos de esperança nos ambientes educativos.

Assim, nos propomos a testemunhar concretamente a esperança:

- Reafirmando a educação à luz do Pacto Educativo Global, que busca integrar os diferentes segmentos e esferas da educação, seja pública, privada ou confessional, defendendo a educação pública, de qualidade e inclusiva como imperativo constitucional, especialmente diante das ameaças de privatização e disputas ideológicas;

- Acreditando na força do Evangelho para educar ao humanismo, à solidariedade, à fraternidade e ao cuidado com a casa comum em meio às crises ambientais e sociais;

- Promovendo uma cultura de paz, diálogo e tolerância diante das violências que aterrorizam as escolas;

- Cuidando dos educadores e educadoras como sinal profético de nossas ações pastorais e

- Continuando a esperançar, a tecer redes de apoio mútuo e a acreditar no poder transformador da educação para a promoção da dignidade da pessoa humana, felicidade e bem estar.

Enviados aos nossos regionais, dioceses, paróquias e comunidades, como discípulos-missionários de Jesus Cristo, apaixonados pelo Reino de Deus e pela arte de educar, assumimos a missão de ser presença profética em cada espaço educativo, cuidando dos que ali estão e sendo sinais da esperança.

Que a Bem-aventurada Virgem Maria, Senhora da Penha, Mãe Educadora, expressão do cuidado de Deus, nos inspire em nosso peregrinar rumo à esperança que, em Cristo, não decepciona.

Participantes do XXII Encontro Nacional da Pastoral da Educação.

Vitória, Espírito Santo, 17 de novembro de 2024.

Fonte: CNBB

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