Análise: como
será o documento final do Sínodo da Sinodalidade?
Por
Andrea Gagliarducci
No
final da primeira assembleia geral do Sínodo da Sinodalidade, há um ano,
versões eletrônicas de um rascunho do relatório de síntese confidencial foram
distribuídas para jornalistas e outro.
Este
ano, aparentemente para dificultara vazamentos, os organizadores do sínodo
deram aos participantes apenas cópias em papel do rascunho do relatório, que
não são tão facilmente disseminadas.
A
ironia é que pode não haver muito para divulgar.
Interna
e externamente, nas últimas semanas, a assembleia sofreu intensa pressão para
mudar as estruturas de governança da Igreja e até mesmo algumas de suas
doutrinas básicas.
A
teóloga Myriam Wijlens, consultora sinodal, disse na quarta-feira (23) que o
papa Francisco pediu para “reconfigurar a Igreja de forma sinodal”. Fazer isso
exigiria mudanças na lei canônica para, por exemplo, tornar conselhos
paroquiais ou diocesanos obrigatórios.
Mas
mudanças maiores, como abrir o diaconato para mulheres ou permitir exceções ao
celibato sacerdotal, para citar duas questões que foram defendidas publicamente
neste mês, parecem fora de questão.
Segundo
fontes que falaram com a CNA, agência em inglês da EWTN News, o que resta é um
rascunho de relatório que está gerando decepção nos setores progressistas, mas
muito pouco burburinho.
Intitulado
“Comunhão, Missão e Participação”, trata-se de um documento curto — 152
parágrafos, por enquanto, cobrindo cerca de 47 páginas. Segundo fontes que
participam do sínodo, ele é dividido em cinco partes.
A
primeira parte lida com a compreensão da sinodalidade e seus princípios
teológicos. A segunda é sobre o que é chamado de “conversão relacional”. A
terceira parte fala de discernimento eclesial, processos de tomada de decisão,
cultura de transparência, responsabilidade e avaliação. A quarta parte busca
entender como cultivar a troca de dons de novas maneiras. Por fim, a quinta
parte fala da formação na e para a sinodalidade missionária.
O
documento final do sínodo, disse um delegado à CNA, parece ser inspirado no
documento sobre sinodalidade que a Comissão Teológica Internacional publicou em
2018, com o título “Sinodalidade na Vida e Missão da Igreja”.
Dois
terços da assembleia precisam aprovar um parágrafo para que ele seja mantido.
No passado, se um parágrafo não alcançasse nem dois terços, ele não era
publicado. Era dito que ele não representava a comunhão sinodal. O papa
Francisco, no entanto, quis que cada parágrafo do documento final fosse
publicado e que os votos a favor ou contra fossem indicados junto com o
parágrafo.
Além
das conversas sobre descentralização saudável, o rascunho do documento fala
sobre como essa descentralização deve ser abordada. Em particular, há um
parágrafo que diz que em uma Igreja sinodal, a competência decisória do bispo e
do bispo de Roma é “inalienável”, ao mesmo tempo em que propõe algumas boas
práticas para tornar o conselho diocesano e paroquial representativo de todo o
povo de Deus, incluindo as mulheres.
Alguns
descrevem o documento como interlocutório em vez de definitivo. Um bispo disse
que “o documento permite que todos administrem as coisas como desejarem”. Mas,
disse ele, ao mostrar certa decepção: “Então o que estávamos discutindo?”
Se
esses são os resultados de duas etapas sinodais em Roma e uma jornada de três
anos de diálogo e escuta antes disso, é claro que muitos ficarão decepcionados.
Não há revoluções, mas sim um chamado para uma mudança de mentalidade na Igreja
fundamentada na ideia de que a sinodalidade sempre esteve presente na Igreja.
Esse
será o ponto de partida para a sessão de encerramento amanhã (26).
Depois
do documento final ser publicado, será preciso esperar o papa Francisco agir. O
papa pode decidir adotar o documento final na íntegra como uma exortação
pós-sinodal ou ele mesmo pode redigir uma exortação pós-sinodal, antes ou
depois dos vários grupos de estudo de especialistas entregarem seus relatórios
finais em maio do ano que vem.
No
fim, tudo depende do papa.
Fonte:
ACIDigital