Visão
integral da pessoa humana
Dom
Antonio de Assis, Bispo auxliar de Belém do Pará - PA
Uma
pastoral juvenil autêntica pressupõe, por parte dos seus organizadores, uma
visão holística da pessoa humana. A Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus
Vivit afirmou que, no mundo atual, sobretudo juvenil, há ideologias de variadas
cores (cf. CV, 180-181); uma delas é o falso culto da juventude que coloca, a
todo custo, como parâmetro existencial, a ditadura da aparência e a paixão
desenfreada pela cosmética, que prescinde de outras belezas (cf. CV,
184).
Outras
ideologias ressaltam o sonho do sucesso, a glória a todo custo, o consumismo, a
ditadura do prazer (cf. CV, 223-227); todavia, há também no mundo de hoje
propostas de felicidades profundamente moralistas, doutrinaristas, intimistas,
sobretudo, no âmbito religioso.
Os
sonhos enganadores das ideologias sempre foram, nos últimos séculos, objeto de
rejeição por parte da Igreja. Esse rechaço é porque tais projetos de felicidade
são falsos; são reducionistas, negando a visão da totalidade das dimensões e da
dignidade humana. Sem uma honesta visão do ser humano, nenhuma experiência Pastoral
se sustenta, porque carece de equilíbrio. Todo reducionismo tem sempre duas
causas: de um lado a ignorância e do outro o orgulho pretencioso.
A
dignidade humana na Exortação Apostólica Christus Vivit
Não
pode haver uma autêntica pastoral juvenil, onde há uma visão fragmentada da
pessoa humana. A autêntica evangelização, por fidelidade às palavras e atitudes
de Jesus Cristo, deve sempre abraçar a totalidade da pessoa humana considerando
todas as suas dimensões. Com muita sabedoria, o Papa Francisco nos chama
atenção para a íntima relação entre desenvolvimento humano integral e a
promoção de uma pastoral juvenil aberta e popular (cf. CV, 93, 234).
Uma
pastoral juvenil alicerçada na dignidade da pessoa humana, considera também o
desafio da educação integral dos jovens. A pastoral não deve ser mal-educada
nem míope em relação a visão do ser humano. A formação humana e a promoção da
fé são pluridimensionais, ou melhor, devem ser holísticas, considerando a
totalidade das dimensões humanas.
Uma
dessas dimensões tão significativas da pastoral juvenil é aquela de natureza
sociocultural, por isso, a Exortação Apostólica Pós-sinodal Christus Vivit,
afirma que “a pastoral juvenil não pode ser indiferente diante das mudanças
sociais e culturais” (CV, 202). As mudanças socioculturais condicionam a
linguagem pastoral, a visão de mundo, a metodologia das propostas, o nível de
envolvimento da dinâmica das atividades, os conteúdos das propostas
socioeducativas e pastorais, o ritmo de vida e a mentalidade das pessoas, bem
como, a organização da vida delas no dia a dia, sobretudo, nos finais de semana
quando se trata dos jovens.
Uma
ampla visão da dignidade humana no contexto pastoral, tem muitas consequências,
como por exemplo: em primeiro lugar dá atenção à pessoa, cuida da qualidade das
relações, evita a concentração em uma só dimensão, promove atividades em todas
as dimensões, dinamiza a formação em diversos horizontes e com temas variados,
interage com outros sujeitos, abre-se para a contribuição das ciências humanas,
dá atenção ao aprofundamento de valores éticos e a Declaração universal dos
direitos humanos, evita o bitolamento de exigências, educa para o
discernimento, diversifica métodos, promove experiências, respeita processos
etc.
A
necessária visão eclesial aberta e sinodal
Em
nível eclesial se reconhece a proliferação e o crescimento de associações e
movimentos com caraterísticas que podem ser interpretadas como uma ação do
Espírito que abre novos caminhos. Mas, ao mesmo tempo, a Exortação Apostólica
Christus Vivit adverte para a necessidade do aprofundamento da participação na
pastoral de conjunto da Igreja, bem como uma maior comunhão entre eles e uma
melhor coordenação da atividade (cf. CV, 202).
De
fato, essa observação é muito pertinente, pois grupos e movimentos que carecem
de sensibilidade de abertura mental e sinodal, como consequência, seguem uma
agenda pastoral paralela, sem sintonia, sem comunhão e nem participação efetiva
no Setor Juventude. Essa atitude enfraquece a evangelização das juventudes e
empobrece a beleza carismática da Igreja, pois todo carisma, dom do Espírito
Santo, é concedido para a edificação da Igreja (cf. 1Cor 14,12) e não para
estar a serviço privadamente de uma instituição. Todo Carisma, dom do Espírito
Santo, não deve ser objeto de vaidade e é absurdo dizer “não precisamos de
vocês”, pois nós formamos um corpo (cf. 1Cor 12,12-31).
A
pastoral juvenil, como as outras pastorais ao interno da Igreja, não tem
sustentabilidade sem o compromisso sinodal. Essa questão, não é opcional, mas
essencial para a vida da Igreja envolvendo todas as forças vivas e
instituições. A pastoral juvenil só pode ser verdadeiramente sinodal se houver
ao interno de cada expressão juvenil a consciência do caminhar juntos que
implica a valorização do próprio carisma assumindo senso de corresponsabilidade
para o bem da igreja (cf. CV, 206). “Animados por este espírito, poderemos
avançar para uma Igreja participativa e corresponsável, capaz de valorizar a
riqueza da variedade que a compõe, acolhendo com gratidão também a contribuição
dos fiéis leigos, incluindo jovens e mulheres, a da vida consagrada feminina e
masculina e a de grupos, associações e movimentos. Ninguém deve ser colocado
nem deixado colocar-se de lado» (CV, 206).
O
sínodo dos jovens nos convidou a pensar a pastoral juvenil de modo poliedro
porque assim também é a Igreja, pois desse modo foi o dinamismo pastoral de
Jesus. Essa visão poliédrica da pastoral juvenil é capaz de atrair os jovens,
ao contrário, uma “visão de unidade monolítica” à empobrece (cf. CV,207).
PARA
A REFLEXÃO PESSOAL:
O
que você pensa sobre a necessidade da visão integral da pessoa humana?
Quais
são as consequências pastorais de uma visão reducionista da pessoa
humana?
No seu contexto eclesial você percebe grupos e movimentos
com tendências intimistas e fechadas? Contribuem ou atrapalham a
sinodalidade e a vida fraterna?