Artigo

Somos todos irmãos, tutti fratelli!? 

Dom Juarez Albino Destro - Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS) 

 A Campanha da Fraternidade deste ano, com o tema: “Fraternidade e Amizade Social”, e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8), recorda-nos a carta encíclica do papa Francisco escrita em 2020, Fratelli Tutti (FT), que significa “Todos Irmãos”. Destacamos algumas frases desse documento que podem iluminar nosso cotidiano, nossa postura de vida, nossa relação humana, ajudando-nos no processo de construção de um mundo mais fraterno, onde todos realmente sejam vistos como membros de uma única família. Frases como esta, que o papa Francisco “retirou” do nosso conhecido Vinícius de Moraes, do Samba da Bênção, de 1962: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (FT 215). Ou esta outra, que nos recorda de nossa vocação e missão para construir a paz: “Somos chamados a ser artífices da paz, unindo e não dividindo, extinguindo o ódio em vez de conservá-lo, abrindo caminhos de diálogo em vez de erguer novos muros” (FT 284). 

“A tarefa educativa, o desenvolvimento de hábitos solidários, a capacidade de pensar a vida humana de forma mais integral, a profundidade espiritual são realidades necessárias para dar qualidade às relações humanas… Devemos superar a ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres… A boa política procura caminhos de construção de comunidade nos diferentes níveis da vida social, a fim de reequilibrar e reordenar a globalização para evitar seus efeitos desagregadores” (grifo nosso. FT 167, 169, 182). 

“Somos chamados ao compromisso de viver e ensinar o valor do respeito, o amor capaz de aceitar as várias diferenças, a prioridade da dignidade de todo ser humano sobre quaisquer ideias, sentimentos, atividades e até pecados que possa ter… Amar o mais insignificante dos seres humanos como a um irmão, como se apenas ele existisse no mundo, não é perder tempo… Se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida” (FT 191, 193, 195). 

“O diálogo perseverante e corajoso ajuda o mundo a viver melhor… Um país cresce quando dialogam de modo construtivo suas diversas riquezas culturais…” (FT 198, 199). 

“O processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte do que a vingança… A verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia” (FT 226, 227). 

“A construção da paz social em um país exige o compromisso de todos… A verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se dentro do conflito, superando-o através do diálogo e de negociações transparentes, sinceras e pacientes… Aqueles que perdoam de verdade não esquecem, mas renunciam a deixar-se dominar pela mesma força destruidora que os feriu” (FT 232, 244, 251). 

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