Nota da CNBB sobre os Eventos Climáticos Extremos
“Com efeito, sabemos que toda a criação até o
presente, está gemendo como que em dores de parto. E não somente ela, mas
também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nosso íntimo,
esperando a adoção filial, a redenção do nosso corpo” (Rm 8, 22-23).
A Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil – CNBB, por meio de sua Presidência, vem expressar preocupação sobre
os recentes eventos climáticos extremos. A gravidade deste momento exige de
todos coragem, sensatez e pronta correção de rumos.
O clima, ultimamente, tem mudado
em velocidade e profundidade impressionantes: as inundações no sul do país, uma
das maiores secas em amplas regiões do território nacional e o aumento
assustador do número de queimadas. Aproximando-nos da festa de São Francisco de
Assis, somos instados a reconhecer o momento crucial e decisivo para a proteção
do equilíbrio ambiental e climático em todo o planeta.
No Brasil, o desmatamento avança,
as queimadas persistem e a mineração ilegal segue sem efetivo controle. Na
prática, estamos perdendo para o crime ambiental, acentuando as emissões de
carbono, exterminando biodiversidade, quebrando processos ecológicos. Esse processo
não é inocente. É fruto de um sistema socioeconômico que corrompe, exclui e
mata.
Cientistas alertam que caminhamos
para um “ponto de não retorno”! O Papa Francisco clama com urgência para ações
efetivas de prevenção, mitigação e reparação da violência que estamos
infringindo ao Planeta, quando diz: “com o passar do tempo, entretanto, dou-me
conta de que não estamos reagindo de modo satisfatório, pois este mundo que nos
acolhe está se desfazendo e, talvez, aproximando-se de um ponto de ruptura (Laudate Deum, n. 2).
Os povos e as comunidades que
mais demostram habilidade e cuidado na proteção dos biomas são, paradoxalmente,
os mais ameaçados e desconsiderados. A legislação precisa ser protegida, sem
flexibilizações ao interesse particular, tendo em vista os riscos, as
vulnerabilidades, os prejuízos e as perdas de vida. É imprescindível mudar o
modelo de desenvolvimento que reduz a Criação a um ativo econômico.
Urgem, dos poderes públicos,
intervenções rápidas, eficazes e estruturadas para enfrentar os eventos
climáticos e garantir o cumprimento da legislação, fiscalização, punição aos
culpados e investimentos em prol de políticas ambientais que promovam os
direitos de toda a Criação, da qual o ser humano é coroa.
Manifestamos solidariedade a
todas as vítimas dos eventos climáticos extremos, conclamamos o povo brasileiro
para a corresponsabilidade, o compromisso e o cuidado para com a Casa Comum.
Que Deus Criador nos inspire e
nos proteja e que Maria, Mãe da Esperança, nos ajude na cura de tantas feridas,
dos pobres e da Terra.
Brasília – DF, 20 de setembro de
2024
Dom Jaime Spengler - Arcebispo da
Arquidiocese de Porto Alegre – RS, Presidente da CNBB
Dom João Justino de Medeiros Silva - Arcebispo
da Arquidiocese de Goiânia – GO, 1º Vice- Presidente da CNBB
Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa - Arcebispo
da Arquidiocese de Olinda e Recife – PE, 2º Vice-Presidente da CNBB
Dom Ricardo Hoepers - Bispo Auxiliar da
Arquidiocese de Brasília – DF, Secretário-Geral da CNBB