Investir tempo, energia e recursos na
Pastoral Juvenil
O
parágrafo 119, do documento final do Sínodo dos bispos sobre os jovens, nos diz
que a prioridade da pastoral juvenil é uma escolha que exige investimento de
“tempo, energias e recursos”. Essa ideia aparece também na Exortação
Apostólica Christus Vivit afirmando: “qualquer plano de pastoral juvenil deve
conter claramente meios e recursos variados para ajudarem os jovens a crescer
na fraternidade, viver como irmãos, auxiliar-se mutuamente, criar comunidade,
servir os outros, aproximar-se dos pobres” (CV,215). Estamos diante de três
importantes compromissos que merecem atenção, pois servem tanto para a promoção
da Pastoral Juvenil quanto para outras pastorais.
O cuidado exige tempo
Uma vez que a Igreja renova continuamente a sua opção
preferencial pelos jovens (cf. CELAM, Doc. Puebla, 1166-1168ss), devemos levar
a sério as suas consequências. Uma delas é o tempo dispensado a serviço da
pastoral juvenil. Uma pastoral juvenil consistente, requer a dedicação de tempo
qualificado aos jovens; pastoral é relação e, por isso, ela não há existe sem
tempo dedicado para o cuidado. Jesus gastava tempo com as pessoas!
Quem emprega um tempo insuficiente para realizar um serviço,
não está levando a sério a quem está sendo servido. “A pressa é inimiga da
perfeição”. Por outro lado, o pouco tempo de convivência pastoral com os jovens
pode significar obviamente, sinal de pouco Amor a eles. Quem ama gosta de estar
com o(s) sujeito(s) amado(s). A Caridade Pastoral, aquela que brota do coração
do Bom Pastor, é também generosa no tempo dedicado (cf. Ez 34,-17; Jo 10,1-17).
Nesses dois provocantes textos o tempo empregado ao cuidado das ovelhas está
repleto de muitas ações, gestos, esforços, atitudes.
Uma pastoral juvenil séria demanda o emprego do tempo
necessário para muitas atividades e favorecer processos: tempo para a
elaboração de planos pastorais, tempo para organizar projetos socioeducativos e
agendas específicas (diocesana e paroquiais); tempo para a formação de
lideranças juvenis, leigos, padres e seminaristas; é preciso dedicar tempo para
a promoção de processos educativos, articular e programar celebrações
especiais, encontros periódicos, retiros, experiências missionárias e
participar de eventos diocesanos, regionais e nacionais; tempo para a escuta,
acompanhamento, orientação, convivência informal, etc.
Não existe educação e evangelização dos jovens onde não há
investimento de tempo; somos educadores-pastores dos jovens porque eles fazem
parte do rebanho que nos foi confiado e somente quem gasta tempo com o outro,
pode cuidar e comprovar que ama. Recordemos Saints Exupéry: “Foi o tempo que
dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.” Há uma íntima relação entre
amor e tempo. Por outro lado, o conhecimento das ovelhas pressupõe tempo de
convivência (cf. Jo 10,14-15). Quem não ama, “nunca tem tempo”… Na verdade,
ninguém prioriza nem gasta tempo com quem não tem interesse.
Investir energia
A segunda consequência da prioridade da Pastoral Juvenil é o
investimento de energias! O termo “energia” está relacionado à dinamismo,
força, potência, vigor, ânimo, esforço, movimento transformador, renovação,
crescimento. No mundo biológico onde não há investimento de energia, acontece a
paralisia, a regressão e a morte.
Esse amplo significado de energia nos possibilita refleti-la
em diversas perspectivas. Jesus Cristo, o Bom Pastor declarou: “Eu vim para que
todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10); “O bom pastor dá a sua
vida pelas ovelhas” (Jo 10,11); “se o grão de trigo, caído na terra, não
morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24). “Eu te glorifiquei
na terra. Terminei a obra que me deste para fazer” (Jo 17,4).
Esses e tantos outros versículos nos falam de energia
dispensada, dedicada, investida em prol da humanidade; para Jesus foi suor,
sangue e lágrimas derramadas pela salvação da humanidade. Para o investimento
de energias é preciso dedicação de tempo. Logo, quem não dedica tempo a uma
causa, consequentemente, não vai queimar energias em prol dela. Sem dedicação e
nem esforço não há investimento de energias. A “autoconservação” é sinal de
infidelidade à missão recebida. O mercenário não luta, mas foge, quando deveria
defender as ovelhas (cf. Jo 10,12-13).
Maria dedicou tempo e energia para servir a sua prima Isabel
e o mesmo fez em Caná da Galiléia (cf. Lc 1,39; Jo 2,1-11). O que poderíamos
imaginar da carga de energia afetiva, emocional e espiritual que Maria gastou
acompanhando Jesus sendo torturado e crucificado no monte Calvário? Sem o
investimento de energias não temos preocupação, estresse, dores de cabeça,
tensão, boas colheitas… Tudo fica estéril. Por isso São Paulo nos alerta:
“aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em
profusão ceifará. Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza
nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria” (2Cor 9,6-7).
A pastoral juvenil (como as outras pastorais) é um
compromisso que requer a disponibilidade de recursos humanos (assessores,
líderes, coordenadores, apoiadores…); gastar energias significa ser
presença animadora que escuta, acompanha, orienta, capacita, convive, participa
da vida deles… Energia na vida pastoral significa afeto dedicado, exercício de
inteligência à serviço da pastoral juvenil, paciência nos processos; energia
significa esforço de redimensionamento, reconfiguração pastoral e conversão
missionária. Todavia, a mais forte energia que podemos dispensar aos jovens é o
nosso calor afetivo, amistoso, fraterno e paterno.
Dentre as muitas energias que poderiam estar com mais
abundância a serviço da educação e evangelização dos jovens, temos as energias
carismáticas presentes em nossas dioceses e paróquias que fortalecem a Pastoral
juvenil e promove a mentalidade sinodal. Um carisma que se fecha às
necessidades da Igreja e só se manifesta como estratégia oportunista para
ganhar mais um, está perdendo o sentido da sua existência. Enfim, merece
observação a necessidade do equilíbrio do emprego de esforços na gestão
pastoral, pois, todas as categorias do povo de Deus devem ser beneficiárias da
mesma atenção pastoral. O desequilíbrio de atenção e cuidado gera mal-estar.
O investimento de recursos
O terceiro investimento a ser feito na pastoral juvenil, diz
respeito aos recursos. Isso significa a promoção e disponibilidade de meios
necessários para que as iniciativas desejadas aconteçam e contribuam para a
promoção da finalidade da Pastoral Juvenil.
Há uma variedade de recursos que, sem os quais, a pastoral
juvenil fica atrofiada. O fortalecimento da pastoral juvenil, que contribui
para a revitalização da Igreja, necessita de recursos humanos, recursos
técnicos, pedagógicos, financeiros e estruturais.
O mais importante de todos os recursos são os humanos.
Nenhum recurso técnico supera o dinamismo humano, sobretudo, quando o sujeito
disponibiliza seus talentos e virtudes, inteligência, vontade e afetividade a
serviço de uma causa. A pessoa é insubstituível e se torna capaz de grandes
feitos quando é líder virtuosa, capaz de acolher, dialogar, estimular,
valorizar as pessoas e despertar nelas o interesse pelo próprio
desenvolvimento.
Importante categoria de recursos estratégicos são aqueles de
natureza técnica e pedagógica. Trata-se da providência de instrumentos que
favorecem a educação e a evangelização dos jovens porque os estimulam a
participar de atividades que vão ao encontro dos seus interesses e
potencialidades a serem estimuladas, como é o caso de investimentos em
instrumentos musicais, esportivos, atividades artísticas etc. Mas não basta
disponibilizar equipamentos, é preciso organizar projetos educativos e com
educadores competentes que possam acompanhar as atividades. Quase em todo lugar
há sempre pessoas competentes que até podem ser voluntárias. As atividades de
danças, artes marciais e esportes sempre atraem pessoas e que desejam
contribuir como voluntárias.
Outros investimentos de grande importância e que temos em
muitos lugares são as nossas estruturas físicas: galpões, salas, salões,
auditórios, quadras esportivas, campos de futebol etc. Que bom constatarmos que
em muitas paróquias temos tudo isso, mas é também lamentável o fato de muitas
ficarem a maior parte do tempo fechadas. Por que não colocar essas estruturas a
serviço da pastoral juvenil? Eis aí espaços disponíveis para a promoção do
oratório festivo! Para quem o desejar compreendê-lo e organizá-lo acesse o link
abaixo.
https://arquidiocesedebelem.com.br/orientacoes-pedagogicas-e-pastorais-para-oratorios/
O Oratório Festivo requer pouco investimento e promove
grande impacto positivo. A pastoral tem necessariamente uma dimensão econômica.
Lá onde, não há paixão pastoral, há miopia na percepção das dimensões da vida
pastoral e, como fruto, o crescimento da evangelização fica atrofiado.
Lamentavelmente, onde isso acontece não há inquietude pastoral e impera o
mínimo esforço para a pura conservação do que resta.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
Como você percebe a dedicação de tempo para a Pastoral
Juvenil na sua paróquia?
Como você entende as energias a serem investidas na Pastoral
Juvenil?
Na sua paróquia há estruturas ociosas que poderiam ter uma
destinação pastoral? O que você pode fazer para mudar essa realidade?