Interrogação ambiental
A Campanha Junho Verde precisa sensibilizar os corações para
reconhecer o que ensina São Francisco de Assis: a Terra deve ser tratada como
uma irmã com quem se partilha a existência. Para alcançar esse objetivo, a
Campanha ainda precisa ganhar mais espaço e atenção, inclusive dos agentes que
a instituíram. A temática ambiental, embora importante, não repercute com a
necessária intensidade no conjunto da sociedade brasileira. É verdade que tem
crescido o interesse sobre questões ligadas ao meio ambiente, mas de modo ainda
tímido, mesmo diante desta interrogação fundamental: O que a humanidade tem
feito com o planeta, lugar de todos? Uma pergunta que ecoa mais forte durante a
Campanha Junho Verde, lembrando que ninguém pode permanecer indiferente diante
do desafio de respondê-la, para que seja possível alcançar um novo estilo de
vida mais sustentável. Mudanças comportamentais são imprescindíveis para que sejam
evitadas catástrofes que levam a perdas irreversíveis e a reconstruções
demoradas, muito onerosas. Adverte o Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato
Si’, que a irmã Terra clama contra o mal que lhe está sendo provocado por causa
do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.
Ainda persiste a mentalidade de que o ser humano é
proprietário ou dominador do planeta, podendo apropriar-se, ilimitadamente, dos
recursos naturais. Por isso são tão comuns atos e posturas sustentados por lógicas
extrativistas, que buscam somente o lucro e o enriquecimento de alguns, sem se
preocupar com os prejuízos que serão amargados por todos. Esses atos e posturas
expressam a violência que habita o ser humano, ferido pelo pecado. Levam a
adoecimentos que provocam sintomas também no solo, na água, no ar e nos seres
vivos. É preciso consolidar o entendimento de que também o corpo humano é
constituído pelos elementos do meio ambiente, podendo adoecer ou morrer, diante
das contaminações que ameaçam a natureza. O adoecimento do planeta repercute na
saúde da humanidade. Por isso, dentre outros males, deve-se buscar a superação
do consumismo – “bomba-relógio” com detonação perigosa e destruidora, estilo de
vida difícil de ser vencido. Na verdade, o estilo de viver centralizado no
consumo sem limites é promovido de muitas formas, pois amplia o lucro de
alguns. Ao mesmo tempo, traz graves consequências para a vida de todos,
indistintamente. Buscar o bem-estar é legítimo e necessário, mas, para
verdadeiramente alcançá-lo, deve-se reconhecer a sua relação com a proteção do
meio ambiente.
Quando se trata do cuidado da casa comum ninguém pode
permanecer indiferente. Esse entendimento precisa se consolidar cada vez mais,
tornando oportuna a Campanha Junho Verde, que promove a sensibilização para o
adequado tratamento da temática ambiental. O meio ambiente não é assunto
exclusivo de alguns segmentos. Deve inspirar reflexões envolvendo cada vez mais
pessoas, pois a deterioração ambiental precisa remeter a revisões de posturas,
superando explorações indevidas e degradações perigosas. Esta sensibilização
primária é urgente e precisa ser permanente. Nesse mesmo horizonte, é preciso
buscar avanços científicos que auxiliem na promoção de um desenvolvimento
econômico sustentável, alavanquem o equilíbrio essencial à vida no planeta, o
que contempla a elaboração de iniciativas capazes de contribuir com a superação
de injustiças, pobreza e exclusão. O mundo contemporâneo pede uma urgente e
significativa conversão ecológica global, capaz de inspirar o abandono dos
modelos de produção que estão em confronto com a Criação de Deus, o único e
absoluto Senhor de tudo. Ao ser humano, Deus confiou a Criação, a ser cuidada a
partir de princípios morais que estão na contramão das lógicas destrutivas do
meio ambiente.
Há de ser questionado criticamente o que se considera
progresso, pois, em vez de desenvolvimento, o que se pode obter é um grave
prejuízo, com perdas de valores ecológicos inalienáveis. Pensar sobre o
que está acontecendo com o planeta Terra deve inquietar o ser humano, fazendo-o
buscar mais conhecimento técnico-científico a respeito de temas essenciais à
vida, a exemplo da relação entre poluição e mudanças climáticas. Sabe-se que
avanços técnicos orientados simplesmente para o acúmulo de riquezas são
incapazes de adequadamente tratar o mistério das relações existentes entre tudo
que habita o planeta. Buscar, simplesmente, mecanismos para intensificar,
sempre mais, o consumo, alimenta a cultura do descarte, fazendo com que a casa
comum se torne um grande depósito de lixo. Intensifica, consequentemente, o
crime do desperdício, alimentando uma grave insensibilidade social, na
contramão da necessária educação solidária que precisa orientar a vida em
sociedade. A reversão do atual cenário de progressiva degradação ambiental é
caminho longo que pede abordagens complexas. Conta muito a postura cidadã
ecológica de cada pessoa, que precisa se tornar aprendiz de estilos de vida
sustentáveis, solidários. E o ponto de partida é deixar-se inquietar por esta
pertinente interrogação ambiental: o que a humanidade tem feito com o planeta,
lugar de todos?