Fraternidade: da teoria à prática
A
Igreja Católica do Brasil, há 60 anos, vem celebrando a Campanha da Fraternidade
durante o período quaresmal, em preparação à grande festa cristã, a Páscoa! A
Quaresma, de fato, é o tempo favorável à retomada de nossa caminhada de
discípulos missionários de Jesus, onde procuramos configurar nossas ações com
as dele, seguindo seu exemplo e compreendendo a sua convocação de semear, no
mundo, o amor, o perdão, a misericórdia, a comunhão, a fraternidade. Assim,
vamos transformando as “trevas” em “luz”, passando da “morte” à “vida”, segundo
o desejo e o projeto de Deus! Sabemos disso, mas temos consciência, também, que
o grande desafio é passar do campo do conhecimento ou do discurso para uma ação
concreta, real, prática.
O Texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano, com o
desafiante, necessário e belo tema: “Fraternidade e Amizade Social”, apresenta
uma série de propostas de ação para que possamos ser, concretamente, mais
fraternos e amigos. As propostas estão organizadas em três âmbitos, o pessoal, o eclesial ou comunitário
e o social.
Vejamos alguns destaques que poderão “iluminar” outros tantos, de acordo com os
contextos de cada um.
No âmbito pessoal podemos transformar as “renúncias quaresmais” em “frutos”,
oferecendo-os na Coleta Nacional da
Solidariedade, realizada em todas as missas
do Domingo de Ramos, que marca a conclusão da Quaresma e o início da Semana
Santa. Metade dos recursos arrecadados ficam na própria diocese, para subsidiar
projetos ligados à formação, evangelização e ação social, enquanto outra metade
é encaminhada à organização nacional, justamente para subsidiar projetos
sociais em todo o Brasil (cf. Fundo Nacional
de Solidariedade). Devemos cuidar para que
o mal que nasce em nós não cresça e se espalhe pelo mundo. E cultivar, por meio
da oração e da prática da reconciliação, uma espiritualidade de comunhão, uma
mística do encontro, da ternura, da misericórdia, aprendendo do Mestre Jesus
uma forma mais acolhedora e compreensiva de lidar com as pessoas no dia a dia,
ampliando a consciência sobre a dignidade integral de cada um, amando não
somente a Deus, mas o que Ele mesmo ama e como Ele ama. Devemos, ainda, cuidar
de nossa formação à diversidade, ao diferente e ao contraditório, uma formação
à liberdade e ao respeito absoluto às pessoas, sem que um padrão seja criado e
imposto a todos, indistintamente. Aprender e saber dialogar. Podemos, também,
incentivar encontros interpessoais, reuniões de famílias e grupos de
convivência, para que as pessoas experimentem e vivenciem o amor e o respeito
mútuo, sendo um agente de reconciliação e paz.
No âmbito comunitário-eclesial podemos destacar uma possível ampliação de nosso agir para
além de nossas Igrejas, associações ou instituições, unindo forças e
favorecendo, por exemplo, os “centros de escuta” e o preparo de pessoas para
ouvir o diferente, o bom uso das redes sociais, como espaços de partilha
fraterna e amorosa, de crescimento, conhecimento e mútua cooperação. Podemos,
também, em nossos bairros e condomínios, escolas e universidades, igrejas e
instituições, preparar e celebrar, com ações e muita criatividade, o Dia
Internacional da Amizade, em 20 de julho, abordando temas como a fraternidade
universal, a amizade social, a solidariedade, a comunhão, o diálogo etc. Seria
muito oportuno estabelecer e/ou fortalecer parcerias com o governo e a
sociedade civil na educação e promoção dos Direitos Humanos para todos.
No âmbito social há sugestões no campo do voluntariado e serviço
comunitário, na promoção da democracia e da paz, participando de organismos
locais e nacionais de Direitos Humanos, buscando uma integração maior com todos
os movimentos que tenham por objetivo a construção de um novo mundo. É
importante conhecer e apoiar as instituições públicas de denúncia de crimes de
ódio e intolerância, e promover aquelas que cuidam da cultura da paz por meio
do esporte e lazer, da cultura e educação. Por fim, compreender, implementar e
popularizar a prática da Justiça Restaurativa, ou seja, a busca da solução de conflitos por meio do
diálogo e da negociação, com a participação ativa da vítima e do seu ofensor.
Três perguntas podem nos provocar em nossa reflexão sobre
“teorias e práticas”: estamos dispostos a ir ao encontro dos vizinhos, mesmo
aqueles que ainda não conhecemos? Sinto-me bem e motivado em celebrar a vida do
outro, suas conquistas e vitórias? Conheço e participo de alguma instituição ou
organização que se preocupa com o outro ou prefiro aquele velho e obsoleto dito
popular: “cada um para si e Deus por todos”? A Campanha da Fraternidade deste
ano traz uma excelente oportunidade para usarmos outro dito famoso, sempre
atual: “um por todos, e todos por um”…