Artigo

Celebrar a vida de fé em comunidade

+ Dom José Gislon, OFMCap.- Bispo Diocesano de Caxias do Sul

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A fé é uma escolha livre e voluntária, e quando professada a partir do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, dá um novo sentido a nossa vida. Através da fé, nós nos sentimos parte de uma família, de uma comunidade de irmãos e irmãs, que buscam viver os valores do Evangelho e trabalham juntos na construção do Reino de Deus.

Mas a fé também deve ser celebrada, porque não teria sentido professar uma fé e não poder testemunhá-la ou celebrá-la, a partir da realidade da vida. “A fé, de fato, cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido, e quando se comunica, como experiência de graça e de alegria” (PF, n. 7). É no encontro com o Ressuscitado, que aquece o coração com a Palavra e oferece novamente o seu amor no partir o pão, que a exigência de n’Ele testemunhar a fé é fortalecida. “Sem a liturgia e os Sacramentos, a profissão de fé não teria eficácia, uma vez que prescindiria da graça que sustenta o testemunho dos cristãos” (PF, n. 11). Viver a fé, a partir do amor de Jesus Cristo, tendo presente que experiência do amor é sempre uma força propulsora, que não pode ser aprisionada.

A nossa vida de fé se manifesta também na participação, na comunidade. Diante de Deus, cada um de nós é único; os dons e talentos de cada um não devem ser nem ignorados, nem confrontados para gerar competição, nem invejados, mas todos devem ser reconhecidos, devem fazê-los frutificar, apresentados e restituídos no louvor ao Senhor. Através da celebração da vida de fé em comunidade, temos a possibilidade de ir construindo uma relação de comunhão com os irmãos e com Deus, através de seu Filho Jesus Cristo. Na comunidade, construída sobre os valores do Evangelho, redescobrimos o outro com suas riquezas, com seus dons. A comunidade é o lugar onde podemos aprofundar os nossos relacionamentos com os outros e partilhar os valores evangélicos. Desta forma, a vida cristã manifestada, vivida e celebrada em comunidade, é chamada a ser e se torna, segundo os tempos, memória viva do amor de Jesus pela humanidade e sinal transparente desse amor. “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vendo as vossas boas obras glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu” (Mt 5,16).

O nosso mundo tem necessidade de sinais e testemunhos de comunidade. É claro que uma santidade comunitária, de grupo, não se pode construir sem uma santidade individual. E, no entanto, devemos ir para além de um misticismo individualista, para podermos construir juntos a comunidade. Uma comunidade sã e espiritualmente sólida é como uma pedra angular, sobre a qual Deus construirá a sua casa. Mas para isso, é importante que cada pessoa esteja consciente da importância da sua participação na comunidade.

Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que as pessoas que fazem parte de uma comunidade devem estar abertas ao diálogo, tendo presente que a escuta, na verdade, pode fazer crescer a comunhão e dar vida nova às comunidades. É comum encontrarmos pessoas que possuem dons e talentos extraordinários, mas que se acomodaram, ou deixaram que a inércia e o desinteresse guiassem a sua vida. Esquecendo que é melhor correr o risco de errar por amor, antes que deixar de lutar por uma causa ou por valores maiores, que dão novo sentido à vida e colaboram para o bem da comunidade. É melhor ver a boa semente da Palavra rejeitada por um terreno estéril, do que escondê-la pelo medo, envolvendo-a no silêncio, que muitas vezes pode significar cumplicidade com aquilo que destrói a vida da comunidade.

Não devemos ter medo de sermos ousados em nossas ações, que buscam revigorar e fortalecer a celebração da vida de fé, nas nossas famílias e nas comunidades. Lembro as palavras de São João Crisóstomo: “A oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e o homem. É um desejo de Deus, um amor inefável que não provém das pessoas, mas é produto da graça divina” (São João Crisóstomo, homilia, n. 6).

O Santo Papa João XXIII, que viveu o flagelo da Segunda Grande Guerra e as tensões da guerra fria no seu pontificado, encorajava as pessoas a não desanimarem diante das dificuldades do seu tempo. E na sua sabedoria de homem simples e de pastor, que conhecia as angústias do coração das ovelhas, dizia: “Não consulte os seus medos, mas as suas esperanças e os seus sonhos. Pensa, não nas suas frustrações, mas nas suas potencialidades ainda não exploradas. Preocupe-se, não com o que você tentou e falhou, mas com o que ainda é possível fazer” (Papa João XXIII).

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