Artigo

10º domingo do tempo comum – Ano B – Na abertura a Deus e ao outro, fazer parte da família de Jesus

IHU-Unisinos - 07 Junho 2024

A reflexão é de Maria Cristina Silva Furtado, teóloga leiga. Doutora e mestra em teologia sistemática pela PUC-Rio, especialista em educação e licenciada em Psicologia pela PUCRS e Psicóloga pelo CNP-MG, ela é também escritora, compositora e cantora, teatróloga, diretora teatral e palestrante. É pesquisadora no CEPECCIG/UFRJ/Macaé e no Grupo de Extensão e Pesquisa em Corporeidade - Cidadania e Gênero da Faculdade de Enfermagem, da UFRJ/Macaé/CNPQ e pesquisadora no Grupo de diversidade sexual - cidadania e religião, PUC-Rio/CNPQ.

Leituras do dia

1ª leitura - Gn 3,9-15

Salmo - Sl 129(130),1-2.3-4ab.4c-6.7-8 (R. 7)

2ª leitura - 2Cor 4,13-18.5,1

Evangelho - Mc 3,20-35

Eis a reflexão.

É com alegria que celebramos hoje o 10º domingo do tempo comum. Encontramo-nos em uma caminhada litúrgica que nos leva a encontrar força e fé para nos ajudar nas alegrias e adversidades deste mundo, e sermos cristãos autênticos.

É importante perceber que vivemos em um mundo onde, entre tantos acontecimentos, de um lado sorrimos, pela nossa vida e por tudo que recebemos de Deus, como agora vemos o querido povo gaúcho fazer, diariamente agradecendo a Deus pela solidariedade dos irmãos brasileiros, que ainda enviam doações, realizam vaquinhas, e os voluntários que foram ajudar a salvar vidas, e estão colaborando na reconstrução de seu estado. Isto depois de tanta angústia e sofrimento que assistimos, pelas vidas perdidas, anos de trabalhos, casas, animais e sonhos, devido a um negacionismo mundial em relação ao aquecimento do planeta e problemas de prioridades decisórias.

No mundo, entre outros problemas, temos duas guerras que ouvimos sobre elas, diariamente, e até assistimos de nossas casas os bombardeios, percebendo o perigo que representam para a humanidade, e, o seu absurdo, pelas desproporcionais forças em Gaza, com crianças e mulheres sendo massacradas, diante do mundo.

Então, é importante começar refletindo sobre a nossa fragilidade, o quanto somos falhos e imperfeitos, embora estejamos sempre procurando esconder e colocar a culpa na outra pessoa. É o que nos mostra, a primeira leitura, Gênesis 3, 9-15, quando o ser humano se descobre “nu” diante de Deus, e fica envergonhado, porque agora sabia que Deus podia vê-lo como ele é, sem nada ocultar, inclusive, a sua desobediência. E a nossa fraqueza é ainda maior, porque ao invés do ser humano, desnudar o seu coração diante de Deus, o homem colocou a culpa na mulher, e a mulher, na serpente. Ninguém quis assumir os seus atos. Mais fácil, então, ver a culpa, no outro, colocando como o inimigo.

Isso me leva a pensar na dificuldade que sempre encontram sobre o cessar fogo na guerra, ou nas justificativas pela violência de gênero, nos assassinatos por ódio. O outro é inferior, é o impuro, e culpado pelas adversidades que enfrento, e não eu.

No salmo 130 (129), o salmista pede socorro a Deus. Ele consegue perceber a sua fragilidade, e diz:

“Ouve o meu grito, pedindo graça. Contigo Senhor está o perdão. Minha alma te aguarda. Com Iaweh está o Amor e a Redenção, resgatando-nos de toda iniquidade.”

Sim, se conseguirmos ver a nossa fraqueza, nossa pequenez, e reconhecer as nossas falhas diante de Deus, percebemos que só mesmo n'Eele, ou seja, só em Deus, podemos encontrar a força, o perdão, o amor, e a Redenção. Não podemos viver sozinhos.

Na segunda Carta aos Coríntios, 4,13-18–5,1, Paulo nos traz fé e esperança quando afirma que aquele que ressuscitou Jesus também nos ressuscitará, e ficaremos ao lado dele.

Precisamos olhar para a vida, procurando dar o melhor de nós, para que todos possam receber a graça do amor de Deus. Pois a graça é para todos. Deus chama a todos nós. E não devemos nos abater, diante dos obstáculos, o que é externo é transitório, é finito, o nosso corpo, por exemplo, mas o que é interno, a nossa alma, nosso espírito, ele se renova sempre, e é eterno.

Por fim, o evangelho de Marcos 3,20-35, remete-nos a Jesus no início do seu ministério, na Galileia, quando a sua fama já está se espalhando. Jesus volta com os doze apóstolos para a sua cidade e se encontra em uma casa, conversando com eles.

Fora da casa, de um lado está uma multidão que quer vê-lo, ouvi-lo e presenciar os seus prodígios e milagres, pois Jesus lhes traz a esperança de uma nova vida. Como todos nós precisamos. Uma multidão, principalmente, de pessoas cansadas da opressão que sofrem, sedentas de dignidade, justiça e amor.

Pessoas que só desejam ser acolhidas como gente. Como tantos, hoje, precisam porque perderam seus filhos, mães, pais, seus pertences, suas casas, precisam de ajuda, estão sem nada. Ou como os grupos de católicos LGBT, as mulheres marginalizadas, os imigrantes, os casais de segunda união e muitos outros, que desejam ser acolhidos, respeitados e integrados.

Por outro lado, Jesus era contestado por aqueles que não aceitavam o seu comportamento de acolher a todos. Eram os que se achavam perfeitos, melhores que os demais, e queriam seguir as leis, sem se preocupar com a história de vida de cada um, e não estavam abertos a mudanças. Como hoje, em dia, também, o Papa Francisco, quer fazer mudanças, beneficiando os mais vulneráveis, e quanta gente se opõe, esquecendo-se do evangelho, e colocando que ele está favorecendo ao inimigo.

Isto já acontecia com Jesus. Pois, como para Jesus, em primeiro lugar, estava o bem-estar do ser humano, ele sentia o desejo de suprir as necessidades de cada um e de todos, com o seu projeto de amor, o seu projeto de serviço à comunidade, alguns doutores da lei o chamavam de demônio, de inimigo.

Acolher as pessoas vulneráveis, como Jesus fazia, não estava previsto na lei, ao contrário, pois estes eram considerados pecadores e endemoniados, e podiam contaminar. Mas Jesus diz a este grupo de doutores da lei que de Deus só vêm o amor e o bem. E que só o pecado contra o Espírito Santo não tem perdão. Ou seja, quem nega reconhecer o poder do Espírito Santo que atua em Jesus, recusa à conversão e contraria o perdão.

Por fim, Marcos nos traz um terceiro grupo, o da sua família. Os seus familiares ficaram sabendo do seu retorno, da multidão que o seguia, das críticas, do perigo que corria, e achou que ele estivesse enlouquecendo por insistir no que fazia.

É possível, sentir e entender, o medo de Maria, como mãe de Jesus, e daqueles que o amavam, pois quando vemos, quem amamos se expondo, podendo sofrer, nós queremos colocá-lo dentro de casa, e impedir que volte a sair.

Mas Jesus, confiante na sua missão, respondeu: minha mãe e meus irmãos são todos aqueles que obedecem a Deus. Assim, todos nós, que procuramos obedecer e seguir a Jesus, também fazemos parte de sua família. Ele nos incluiu, incluiu a todos. Como diz o Papa Francisco: TODOS, TODOS, TODOS. Sem exceção. Não colocou etnia, religião, gênero, nem orientação sexual.

Então eu termino desejando que hoje, ao ouvir essas palavras, possamos perceber as nossas fraquezas, as nossas iniquidades e o quanto sozinhos somos vulneráveis. Mas se abrirmo-nos a Deus e permitir que ele penetre em nossos corações, poderemos nos abrir ao outro, para que tanto a outra pessoa quanto nós venhamos a sentir o amor infinito e incondicional de Deus, e viver este amor, acolhendo, respeitando e incluindo a todos, e assim sermos parte da família de Jesus, aquela que faz a vontade de Deus, que é AMAR.

Olá!

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