
O amor misericordioso de Deus gera alegria.
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese, neste 4º Domingo da Quaresma, chamado em latim, Domingo «in Laetare», isto é, “Domingo da alegria”. A liturgia nos convida a alegrarmo-nos com a Festa da Páscoa que se aproxima, ou seja, com o dia da Vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. A fonte da alegria cristã está na Eucaristia, a qual Cristo nos deixou como alimento espiritual, enquanto peregrinamos neste mundo. Esta alegria brota da nossa harmoniosa relação com Deus e com os irmãos e irmãs, tendo como fundamento a vivência do amor misericordioso do próprio Deus, exemplificado por Jesus na narrativa da parábola do Filho Pródigo, deste Domingo.
Prezados irmãos e irmãs, no caminho quaresmal que estamos trilhando, somos chamados a redescobrir o rosto misericordioso de Deus que como Pai nos ama com infinito amor, apesar de nossa desobediência e distanciamento, consequência de nossas escolhas erradas ou equivocadas.
A primeira leitura (Js 5,9a.10-12) nos revela que foi por causa de sua misericórdia que Deus libertou o povo hebreu da escravidão do Egito e o introduziu na Terra Prometida. Assim, primeira coisa que o povo hebreu fez quando chegou nesta terra foi celebrar a Páscoa. A partir da celebração da Páscoa, o texto diz que “cessou de cair o maná” e o povo passou “a comer dos produtos da terra” (cf. Js 5,12). A entrada na terra prometida rompeu com a opressão dos egípcios e significou a conquista da vida nova: passaram a produzir o próprio alimento. A Páscoa, para Israel, mais do que um momento celebrativo, era uma realidade vivida pelo povo no seu dia a dia.
Na 2ª leitura, São Paulo fala à Comunidade de Corinto sobre a vida nova, de liberdade interior operada por Cristo no mistério de sua Paixão, Morte e Ressurreição. Para conquistar esta liberdade é preciso acolher o amor de Deus oferecido a cada um por meio de Jesus, sendo que isto só é possível por meio da reconciliação com Deus e com os irmãos. “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura” (2Cor 5,17). E prossegue: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20). Ser cristão é aceitar essa Reconciliação com Deus, em Cristo. Esta comunhão com Deus exige também a reconciliação com os irmãos e irmãs.
O Evangelho deste domingo nos revela o verdadeiro rosto de Deus, manifestado nas palavras e ações de Jesus. O texto inicia dizendo que “os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-lo” (Lc 15,1). Por sua vez, “os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus: Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Diante disso é que Jesus contou a parábola do Filho Pródigo: O pai é o próprio Deus, que manifesta seu amor na prática de Jesus. O filho mais velho representa Israel, que se julga correto por praticar os Mandamentos, O filho mais novo representa os marginalizados, pecadores, cobradores de impostos, que se aproximavam de Jesus para o escutar e acolher seus ensinamentos.
A Parábola diz que o filho mais novo exigiu a parte da herança que lhe cabia. Por sua vez, a divisão da herança era feita somente após a morte do pai e o filho mais velho tinha direito a dupla porção. O pai, entendendo que todos os filhos eram iguais, atendeu ao pedido e, em vida, “dividiu os bens entre eles” (Lc 15,12). Ao tomar sua parte, o filho mais novo saiu de casa, foi para um lugar distante e esbanjou tudo numa vida desenfreada. As consequências logo apareceram. A fome e o trabalho junto aos porcos, o fez dar-se conta do grande erro que havia cometido. Tomou consciência de seu pecado e decidiu: “Vou-me embora, vou voltar para meu pai” (Lc 15,18). Passou a compreender que a segurança de sua vida, estava junto de seu pai e não separado dele. Quantas pessoas, hoje, acham que viver longe de Deus, desligado da comunidade é ser moderno, é estar livre!
Ao retornar para casa, “ainda longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15,20). Ser novamente acolhido como filho, foi-lhe a atitude mais surpreendente e inesperada. Recebeu a melhor túnica, anel, sandálias e festa. Deus é assim. Sua grande alegria é nosso retorno. Hoje, muitos resistem em voltar! Mas Deus não tem pressa. Ele nos aguarda.
Caríssimos irmãos e irmãs. Lembramos que às vezes nos deparamos com dificuldades em nossa vida e achamos que é Deus nos castigando, mas na verdade o sofrimento muitas vezes é fruto do mau uso da liberdade que temos. Somos nós que nos distanciamos de Deus. Por isso, não esqueçamos que é sempre tempo de voltar ao Pai, na certeza de que ele está sempre a nossa espera. Assim, ao caminharmos para a Festa da Páscoa, sentindo o amor de Deus por nós, aproximemo-nos de nossos irmãos e irmãs com os braços abertos, a fim de manifestar o mesmo amor misericordioso, que gera alegria.
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali
Bispo Diocesano de Erexim – RS