A ação de Jesus que transforma!
Minha saudação a todos os irmãos e irmãs que acompanham a Voz da Diocese. No domingo passado refletíamos sobre o Batismo de Jesus. No Batismo Jesus foi apresentado ao mundo como o Filho amado de Deus Pai. Dando sequência, o Evangelho deste domingo, descrevendo as Bodas de Caná (Jo 2,1-11), apresenta o primeiro sinal realizado por Jesus em seu ministério.
Caros irmãos e irmãs. As núpcias de Caná da Galiléia marca o início da missão de Jesus. Na Sagrada Escritura, o casamento sempre foi visto como símbolo de aliança. Este acontecimento de Caná foi escrito para que as pessoas creiam em Jesus e reconheçam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo tenham a vida em seu nome (Jo 20,31).
O Evangelho de João inicia situando o casamento “no terceiro dia” (Jo 2,1), alusão ao dia “da ‘glória’, da ‘revelação’ do poder salvador de Deus”, o dia da “Ressurreição de Jesus”. Com esse sinal, Jesus “manifestou a sua glória”, que se realizou plena e definitivamente na cruz, quando Jesus disse: “Tudo está consumado!” (Jo 19,30).
Na tradição de Israel, o casamento era motivo de grande alegria para as famílias (Tb 11,17-18). No casamento de Caná, “a mãe de Jesus estava” presente (Jo 2,1), revelando a presença de Maria na vida do povo. Jesus e seus discípulos foram convidados para o casamento. Constantemente Jesus participava de refeições com outras pessoas em suas casas. Por sua vez, a chegada de Jesus, com seus discípulos, nestas núpcias, indica a entrada do Messias na vida “do povo que vive sob a antiga aliança”. A presença de Jesus não será a de um mero convidado. Como diz o próprio Evangelho de João, o objetivo da vinda do Messias é “para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17). Esta é a razão da presença de Jesus nas núpcias.
Caríssimos. O “vinho do casamento tinha-se acabado”. Esta é a questão mais preocupante das núpcias, a falta de vinho. Por seu simbolismo, a alegria, o amor conjugal, o vinho é apresentado como “o elemento central da festa”. Maria, mulher-mãe atenta, foi a primeira a constatar a falta de vinho. Percebendo esta situação e confiando na intervenção de Jesus, recorreu imediatamente a ele, dizendo-lhe: “Eles não têm vinho!” Maria recorre a Jesus e expõe-lhe a “carência” dos noivos, a falta do vinho, uma “intolerável situação”. Não é comum que um convidado num casamento assuma a responsabilidade pela festa. Com esta atitude, Maria se colocou no lugar dos noivos, dos quais não se diz os nomes, e assumiu, como seu, o problema deles. Sua posição é de alguém que se preocupa com a necessidade do outro e sua atuação cria um processo de solução. Maria é “uma mulher de fé”, que atrai a atenção de Jesus sobre uma situação crítica a fim de buscar uma saída.
Com toda a segurança e confiança Maria dirigiu-se aos serventes, dizendo-lhes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Para ela, vida, alegria, dignidade, esperança, paz…, encontram-se na acolhida e na vivência da Palavra de Jesus. Fazer a vontade de Jesus é tudo o que Maria deseja, e por isso essas palavras, as últimas pronunciadas por ela, são identificadas como o mandamento mariano.
Jesus pediu aos serventes que enchessem as talhas de água. “O significante não é o vinho como tal, mas a passagem da água para o vinho”. O vinho novo “não pode ser dissociado da água de onde vem”. Quando o mestre-sala provou a água, transformada em vinho, a grande surpresa: “Tu guardaste o vinho bom até agora!” (Jo 2,10). A transformação foi total. Por sua vez, somente percebem o “sinal” de Jesus aqueles que estão em sintonia com aquilo que ele diz. Jesus não veio abolir a Lei e os Profetas, mas para dar-lhes “pleno cumprimento” (Mt 5,17). O vinho produzido não é acrescentado à água, é a água transformada em vinho. Significa que o projeto de Jesus é reconstruir as relações entre as pessoas, implicando a participação e o empenho de cada um, como diz o Apóstolo Paulo: “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7).
Caros irmãos e irmãs. Reconheçamos também nós ação de Jesus realizada nas bodas de Caná e que continua a se realizar em nossa vida, todas as vezes que acreditamos nele e, deixando-nos guiar pela sua palavra, somos transformados em homens e mulheres portadores de alegria e esperança, a quem caminha ao nosso lado.
Deus abençoe a todos e bom domingo.
Dom Adimir Antonio Mazali
Bispo Diocesano de Erexim – RS